Para ser ASG, filantropia empresarial precisa aumentar recursos e diversidades 

Mesa no último dia do 12º Congresso GIFE questionou os limites do setor empresarial para promover equidades

A sustentabilidade é um conceito amplo que abrange não apenas a preservação do meio ambiente, mas também o respeito aos direitos humanos, a promoção da justiça social e a adoção de boas práticas de governança pelas empresas. Esses aspectos são representados pela sigla ASG (ambiental, social e governança, em português) ou ESG  (em inglês para Environmental, Social and Governance) e estão se tornando cada vez mais relevantes no cenário corporativo. No entanto, a inclusão da equidade como um valor essencial para o desenvolvimento sustentável ainda enfrenta  desafios.

Para debater os limites que os três pilares – ambiental, social e governança – enfrentam na filantropia empresarial, o 12º Congresso GIFE – Desafiando Estruturas de Desigualdades organizou a mesa “ASG e os limites das estratégias das empresas para promoção de equidades”. A conversa contou com a mediação de Patricia Loyola, diretora de Gestão e Investimento Social Corporativo na Comunitas, e participação de Fábio Alperowitch, fundador da FAMA Investimentos; Guibson Trindade, gerente executivo na Associação Pacto de Promoção da Equidade Racial; Herik Marques, diretor superintendente na Fundação ArcelorMittal; e Marisa Santana, gerente de Impacto Social em ESG no Instituto Nu.

Em destaque:

  • Empresas devem rever a quantidade de recursos aportados para melhorar as estratégias de superação de desigualdades.
  • Há a falta de indicadores e dados que abordem a diversidade nos projetos sociais do campo empresarial e dentro das próprias organizações.
  • A presença de princípios ASG nas empresas impactam seus desempenhos econômicos. 

 

De acordo com Patricia Loyola, da organização Comunitas, a maior parte dos recursos aportados no campo do Investimento Social Privado (ISP) tem origem corporativa. “Quando a gente olha para a parcela  de aportes de entidades filantrópicas empresariais, vemos que são maioria. Elas representam hoje cerca de 65% dos associados do GIFE e destinaram R$ 4,5 bilhões em recursos. Porém, esse meio ainda está distante em adotar a promoção de equidades em seus processos.”

S de Social

De acordo com o Censo GIFE, em 2020, o setor do ISP destinou R$ 5,3 bilhões para projetos de impacto público social. Contudo, menos de 10% desse valor foram destinados para projetos que trabalham diretamente com recortes de diversidade, como raça, gênero, orientação sexual e pessoas com deficiência. Quando se considera especificamente projetos que levam em conta a perspectiva racial dos negros, menos da metade deles contempla essa questão de forma direta ou transversal.

No Brasil, grupos populacionais como pretos e pardos enfrentam situações de vulnerabilidade social e necessitam de políticas públicas para corrigir essas desigualdades. Conforme dados do Atlas da Violência de 2021, 77% das vítimas de homicídio no país naquele ano eram negras. E o número de jovens negros assassinados é três vezes maior do que entre não negros.

Após resgatar estes números, Fábio Alperowitch afirmou que, embora a filantropia não possa substituir o papel do Estado, ela pode desempenhar um papel importante para intervir em tais questões e outras semelhantes. Segundo ele, a maioria do setor empresarial deseja um Estado enxuto, mas se exime das responsabilidades quando confrontada com desigualdades, atribuindo a questão inteiramente ao poder público. “Questões como o racismo e a crise climática são urgentes. E o meio empresarial concorda, os recursos precisam aparecer. Caso contrário, não é ESG, é marketing”.

Guibson Trindade complementou, dizendo que a complexidade dessa falta de recursos se acentua quando o setor não apresenta indicadores o suficiente para combater o problema. “Há carência de dados que mostrem o desequilíbrio racial nas empresas para que possam corrigir essa desigualdade.”

O Censo GIFE mostrou  que as desigualdades não estão somente na ponta, mas também entre os tomadores de decisão. O último levantamento revelou que 55%  dos conselhos deliberativos são formados exclusivamente por homens e mulheres brancas. Já o percentual de instituições que têm somente negros e negras entre seus conselheiros é de 1%. “Hoje as empresas e instituições não estão prontas para verem negros em lugares de decisão. E talvez elas nem queiram, e por isso é necessário impor essa discussão”, afirmou Guibson Trindade. 

Recursos e ESG

Ainda que o aporte de recursos do ISP tenha aumentado, ele ainda é insuficiente, afirmam os palestrantes. Marisa Santana explicou que esse é um um dos principais limitadores: “O setor empresarial ainda não têm o apetite para destinar recursos para projetos de impacto social. E, se esse recurso é limitado, as estratégias para superar desigualdades também serão.” Ela ainda apontou a pressa por resultados como fator limitante, dizendo que enfrentar as injustiças sociais é urgente, mas que só pode ser feito a longo prazo. “Não levar isso em consideração incorre em criar soluções simplistas.”

O diretor superintendente da Fundação ArcelorMittal, Herik Marques, concordou com a posição. Para ele, as partes sociais de grandes empresas estão ensinando os líderes de negócios a integrar sustentabilidade às estratégias. Porém, esse movimento é lento, pois não é só uma mudança nas corporações, mas em todos os seus indivíduos: “Depois da pandemia, ficou claro como esses três pilares impactam a economia das empresas.”

Encontro para promover equidades

De 12 a 14 de abril de 2023, o 12º Congresso GIFE – Desafiando Estruturas de Desigualdades – debateu as formas de superar as desigualdades que atravessam a sociedade. 

Se este tema te interessou, clique aqui e confira a cobertura completa do evento.

Apoiada pela Fundação Bradesco, Vale, Fundação ArcelorMittal, Fundação Ford, Fundação Itaú e Porticus, a 12ª edição do Congresso GIFE – Desafiando Estruturas de Desigualdades – também celebra os 35 anos da Constituição Federal e do seu Artigo 5º, trecho que estabelece direitos fundamentais.

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