Uma filantropia para a justiça social

O Brasil entrou para o top 20 no ranking de países mais solidários do mundo, segundo o World Giving Index 2022, relatório produzido pela Charities Aid Foundation (CAF). Em 2022, o país subiu 36 posições em relação aos dados do ano anterior, pulou da posição 54 para a 18, mostrando que a solidariedade está em alta, destaca a publicação Perspectivas para a Filantropia no Brasil 2023

 

Ao longo de 2022, cerca de 3 bilhões de pessoas em todo o mundo ofereceram ajuda a indivíduos desconhecidos. Isso representa um aumento de 10% no número de doações em economias de alto rendimento. “A filantropia e o Investimento Social Privado (ISP) movimentam anualmente no Brasil cerca de 0,2% de seu PIB (Produto Interno Bruto)”, afirma Cássio França, secretário-geral do GIFE, “um valor baixo se comparado com outros países referência no tema, como os EUA, onde essa porcentagem sobe para 2%”.

 

Nesse cenário, quais caminhos devem ser considerados para implementar estes investimentos em um modelo de desenvolvimento que esteja de fato condicionado à equidade e à justiça social? Este é o assunto central da plenária de abertura do 12º Congresso GIFE – Desafiando Estruturas de Desigualdades, que acontece no dia 12 de abril em São Paulo. 

 

 Para Cassio França é o momento de provocar mudanças sistêmicas:

“É óbvio que a filantropia e o ISP jamais substituirão o Estado – e nem é essa a intenção -, mas pessoas e entidades privadas têm o dever moral e político de colaborar com a construção de um país mais justo e equânime. Além disso, existe uma vantagem que o Poder Público não tem: capital flexível. Por ser privado, o recurso tem agilidade para ser alocado na produção de conhecimento, formulação de políticas públicas ou, ainda, para a inovação na gestão pública. Podem ser destinados a quaisquer temas, pautas e projetos.”

Enfrentando as complexidades nos âmbitos social, econômico e ambiental

Historicamente, a atuação do campo filantrópico foi muito segmentada em projetos locais, porém nos últimos anos foi percebida a urgência de unificação. Ao longo das últimas décadas, é perceptível que  as complexidades encontradas pela filantropia nos âmbitos social, econômico e ambiental são múltiplas e interligadas de forma sistêmica. 

Nos últimos anos, cientistas sociais e economistas se debruçaram em pesquisas e estudos que vêm destacando as mesmas tendências. O ensaio “Como as mudanças climáticas impactam as mulheres” – assinado por Amalia Fischer, Shinji Carvalho, do Elas+Doar para Transformar — concretiza o debate o: “As mudanças climáticas afetam mais as mulheres e as meninas. De acordo com estudos da Oxfam, as mulheres são responsáveis por 75% de todo o trabalho de cuidado não remunerado no mundo. Quando elas têm que sair de zonas de possíveis desastres provocados por mudanças climáticas, têm dificuldades em deixá-las devido a impedimentos que têm a ver com o trabalho do cuidado, falta de recursos financeiros e direitos à terra e à propriedade.” 

Nesse sentido, a transversalidade se tornou uma abordagem essencial, pois permite que questões sociais, ambientais e econômicas sejam contempladas de maneira integrada e eficaz. Ao adotar essa perspectiva, gestores do Investimento Social Privado podem investir de maneira mais estratégica e transformadora, alcançando resultados mais significativos e duradouros. 

Outra realidade, que interliga discriminação, pobreza e crise climática,   revelou a muitas pessoas o termo racismo ambiental, exemplicado pelos recentes casos dos desmoronamentos em decorrências chuvas na região sudeste. O conceito faz referência às formas desiguais pelas quais povos tradicionais de áreas rurais são expostos a catástrofes ambientais que não foram provocadas por eles. E, não raro, são excluídos dos lugares de tomada de decisão na hora de solucionar essas mesmas crises.

E isso não acontece apenas com povos indígenas. De acordo com o estudo “Racismo ambiental e justiça socioambiental nas cidades”, conduzido pelo Instituto Polis, embora apenas 33% dos moradores de São Paulo sejam pessoas negras, nas áreas de maior risco elas representam 55% das famílias.

Encontrando os novos caminhos

O Investimento Social Privado deve abordar essas complexidades de forma integrada e colaborativa, trabalhando para equilibrar as demandas do desenvolvimento econômico com a proteção do meio ambiente e a promoção da justiça social. E apoiando organizações da sociedade civil para alcançar territórios e pessoas que ainda estão à margem das políticas públicas.

A filantropia é um campo em evolução e sempre surgem novas ideias e abordagens. Ao longos dos anos  diversos conceitos ou tipos foram aparecendo: empresarial, individual, estratégica, comunitária e entre outras. Mas pra onde eles seguem no momento?

Este e outros debates sobre filantropia e Investimento Social Privado (ISP) serão abordados durante o 12º Congresso GIFE: Desafiando Estruturas de Desigualdades,  O evento acontece entre os dias 12 e 14 de abril no Memorial da América Latina, em São Paulo. Apoiada pela Fundação Bradesco, Vale, Fundação ArcelorMittal, Fundação Ford, Fundação Itaú e Porticus, a edição de 2023 também celebra os 35 anos da Constituição Federal e do seu Artigo 5º, trecho que estabelece direitos fundamentais. 

Leia mais sobre a plenária “Desafiando as estruturas da desigualdade”.

Se este tema te interessou, você também deve dar uma olhada na plenária Educação para a emergência climática: formando cidadãs e cidadãos para o desenvolvimento sustentável.

Ou clique aqui e confira a programação completa do evento.

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