Enquanto houver fome, a democracia no Brasil não será solidificada

Especialistas debatem como o investimento público e privado podem  erradicar a fome de forma perene

A união de todas as instâncias governamentais com o setor privado e organizações da sociedade civil é uma das maiores urgências para que a fome seja combatida no Brasil de forma  perene e sustentável. Esse é o principal desafio apontado entre os participantes da mesa “Possibilidades para um Brasil em fome e miséria” durante o segundo dia do  12º Congresso GIFE – Desafiando as Estruturas de Desigualdade

Atualmente, de acordo com a Rede Brasileira de Pesquisa em Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan), o número de brasileiros com fome corresponde a 15% da população, que se soma a mais 92,1 milhões de pessoas (43,2% da população) que tiveram de alguma forma o direito à alimentação não assegurado em 2022. Para os casos mais leves, a rede Penssan define insegurança alimentar como a incerteza quanto o acesso a alimentos no futuro, enquanto nos casos mais graves ela significa o não acesso a alimentos que possam suprir as necessidades energéticas diárias de uma pessoa.

Mariana Macário, gerente de políticas públicas da Ação pela Cidadania, afirmou que o maior desafio para combater a fome está intimamente ligado à necessidade de investimento em políticas públicas estruturais que, se aplicadas de forma correta, podem ser as mais efetivas para que mulheres, sobretudo as negras, que chefiam a maior parte das famílias que vivem em estado de total insegurança alimentar. 

A fome é um projeto político, por isso é urgente a necessidade de investimento na produção familiar de alimentos para combater a fome. Quem coloca comida no prato da maioria da população brasileira  são os pequenos e médios agricultores”, afirmou.

Investimento social privado no combate à fome

O combate à fome no Brasil é uma questão central para o desenvolvimento do país. Como se cumpre os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS)  num país onde 15% da população, somada a mais 92,1 milhões de pessoas (43,2% ),  tiveram de alguma forma o direito à alimentação não assegurado em 2022? 

A resposta foi dada por Malu Paiva, vice-presidente executiva de sustentabilidade na Vale: é preciso o engajamento de todos os setores da sociedade, assim como tem ocorrido com as ações associadas às mudanças climáticas. “Reduzir a emissão de carbono passou a ser um objetivo e linguagem em comum entre o setor público e privado. Estamos todos na mesma página em relação a isso e o mesmo deve ocorrer em relação à erradicação da fome.”

No caso da Vale, os objetivos sociais e climáticos são convergentes. A mineradora tem a ambição social de contribuir para a saída de 500 mil pessoas da extrema pobreza multidimensional até 2030. Para isso, a empresa iniciou, neste ano, a implementação de 10 projetos piloto (que envolvem investimentos em saúde, educação e geração de renda) nos estados do Maranhão, Pará e Rio de Janeiro, para que 30 mil pessoas possam sair desta condição (o equivalente 5% do total traçado pela ambição).

Em destaque: 

.  A perpassa questões de raça e gênero

. O verdadeiro tamanho e a profundidade das desigualdades amplificadas pela pandemia.

. Sustentabilidade moral. Para um país com desigualdades, as oportunidades devem ser para todos.

Segundo dados da Embrapa, em 2021, o Brasil produzia alimentos para alimentar 400 milhões de pessoas, ou seja; tecnicamente, nenhum brasileiro deveria conviver com a fome. Diante desses dados, Helio Santos, presidente do Conselho da OXFAM Brasil, afirmou que não é mais possível  utilizar curativos para conter fraturas expostas. Para ele, o tema do 12º Congresso GIFE pode e deve ser o carro chefe deste enfrentamento: desafiar a fome, dar de comer. 

Além da união das três instâncias de governos, é essencial que sejam retomados os programas sociais que se mostraram extremamente eficazes na diminuição da pobreza estrutural de grande parte da população brasileira num passado nem tão distante. “É necessário investir em programas emancipatórios que possam ser replicados em diversos grupos. Não adianta apenas apoiar determinadas iniciativas de forma aleatória.” 

De 12 a 14 de abril de 2023, o 12º Congresso GIFE — Desafiando Estruturas de Desigualdades — debateu as formas de superar as desigualdades que atravessam a sociedade. 

Se este tema te interessou, clique aqui e confira a cobertura completa do evento.

Apoiada pela Fundação Bradesco, Vale, Fundação ArcelorMittal, Fundação Ford, Fundação Itaú e Porticus, a 12ª edição do Congresso GIFE – Desafiando Estruturas de Desigualdades – também celebra os 35 anos da Constituição Federal e do seu Artigo 5º, trecho que estabelece direitos fundamentais.

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